No canto IV, estâncias 94 a 104, de Os Lusíadas, quando a frota do Gama se prepara para partir, de entre a população que comparece na praia para chorar a partida dos navegadores, individualiza-se a figura de um Velho, de "aspeito venerando", "meneando / Três vezes a cabeça, descontente", "Cum saber só de experiência feito". Apresentando uma opinião adversa ao projeto expansionista, acusa a "glória de mandar", a "vã cobiça" que, sob a designação de Fama, move o povo, desmontando o heroísmo sobre que assenta a gesta lusitana. Numa perspetiva pessimista, enumera as consequências desse engano, nomeadamente o desamparo e inquietação em que deixam familiares e o "desprezo da vida" que os faz ir ao encontro de desastres, perigos e morte. Ao mesmo tempo, o Velho do Restelo dá voz às camadas do poder que teriam preferido a continuação de uma política de conquista e cruzada no Norte de África, para o que apresentam os argumentos de defesa da fé cristã e de reforço da segurança nacional, já que a expansão por mar deixa criar "às portas o inimigo", provocando o despovoamento e enfraquecimento do reino.
Deste modo, o Velho do Restelo representa a voz da razão num momento de
euforia e deslumbramento, a voz da experiência perante a irreverência. Em certa
parte, os seus conselhos acabaram por se revelar proféticos, pois a prosperidade
das Descobertas cedo se revelou fugaz, seguindo-se a decadência económica e
territorial. Além disso, as contrapartidas da Expansão eram óbvias: jovens
viúvas esperaram eternamente pelos maridos, a sociedade portuguesa tornou-se
ociosa e cega pela ganância.